Para muita gente, o ano de 2023 começa agora, em março; passou o carnaval, terminaram as férias escolares dos filhos, começaram a chegar os implacáveis boletos – IPVA, IPTU, matrícula na escola das crianças ou da faculdade, material escolar etc – a lista nunca acaba.
Na esteira das contas, como acontece para todo o sempre, vem a historinha: “Ano novo, Vida nova”.
Mas o que é uma vida nova senão uma vida pautada por novos hábitos?
Inevitavelmente, vem a próxima pergunta, a de um milhão de dinheiros: como criar um novo hábito?
A resposta que pode decepcionar algumas pessoas de tão simples é ao mesmo tempo impactante.
Sim, porque o ponto de partida de todo hábito (seja ele bom ou ruim) é uma simples decisão que só depende de nós: o que eu estou buscando com o novo hábito?
- Ser mais competitivo no mercado de trabalho?
- Ser mais atraente para a minha parceira ou para meu parceiro?
- Ser fluente em outro idioma?
- Ser livre para montar meu próprio negócio?
Quando digo isso, algumas pessoas questionam: mas isso não é o que todo mundo faz quando estabelece um novo objetivo para si?
Não é e vou explicar porque: existe uma diferença muito sutil entre a busca de um resultado e a busca de uma nova identidade.
Para ilustrar melhor, imagine a seguinte situação: duas pessoas estão em um processo de abandonar o hábito de fumar. Ao oferecer um cigarro à primeira pessoa, ela responde: “Não, obrigado. Estou tentando parar de fumar.”
À primeira vista parece uma resposta razoável mas, refletindo melhor sobre o sentido das palavras, essa pessoa ainda acredita que é um fumante “tentando ser” outra coisa. Ela espera que seu comportamento mude, mas ao mesmo tempo continua carregando as mesmas crenças.
Por outro lado, a segunda pessoa recusa peremptoriamente: “Não, obrigado. Eu não fumo.” Essa segunda pessoa não mais se enxerga como alguém que fuma. Fumar fazia parte de sua vida anterior, não dá atual.
Como eu disse, existe uma pequena diferença; mas a afirmação do nosso segundo personagem sinaliza uma mudança de identidade.
A esse propósito, James Clear, em seu livro Hábitos Atômicos, a certa altura dispara: “mudar nossos hábitos é um desafio por duas razões: (1) porque tentamos mudar a coisa errada e (2) porque tentamos mudar nossos hábitos de maneira errada.”
E, propõe o autor, pensar na mudança de um hábito é algo como descascar uma cebola às avessas. Existem camadas a remover. A mudança da identidade é a camada mais interna e, portanto, a mais desafiadora, por onde se deve começar a mudança. Clear, toma emprestado o conceito do Círculo Dourado (Golden Circle) desenvolvido por Simon Sinek (autor de “Comece pelo por quê”), adaptado ao contexto da mudança de hábitos.
Vencido o desafio de definir a nova identidade (o que queremos nos tornar), o próximo passo (camada intermediária da cebola) está associado à mudança dos processos: como você executa as suas rotinas diárias que, em última instância, levam aos seus hábitos. A maioria dos hábitos que criamos está associada a esse nível.
Finalmente, a camada mais externa (e, talvez, a mais fácil), se preocupa em definir os resultados: fazer um curso de inglês este ano, emagrecer x quilos em 3 meses, elaborar um plano de negócios para sua empresa até o dia Y, fazer um MBA em 2 anos. A maioria das nossas metas está associada a esse nível de mudança.
Até aqui tratamos da estrutura que rege a mudança do comportamento. Mas, quando vamos pôr a mão na massa?
No próximo artigo eu vou me aprofundar com uma série de dicas que podem te ajudar nessa jornada.
Mas, adianto, qualquer mudança nasce dentro de você.
Ensinamento da semana: “Todo processo de mudança de comportamento, começa sempre com a consciência”. James Clear