No cenário competitivo atual, a compreensão das forças que moldam a dinâmica de um setor da economia é essencial para qualquer estratégia de sucesso. Michael Porter, em sua famosa Estrutura das Cinco Forças, oferece uma lente poderosa para analisar a atratividade de uma indústria e a posição competitiva de uma empresa.
Entre essas forças, a ‘Ameaça de Novos Entrantes’ destaca-se pela sua intrínseca relação com as barreiras de entrada – obstáculos que dificultam ou impedem a entrada de novas empresas em um mercado. Tradicionalmente, essas barreiras podem ser representadas por economias de escala, diferenciação de produtos, necessidade de capital intensivo, custos de mudança para o cliente ou consumidor, patentes, acesso a canais de distribuição, políticas governamentais etc.
No entanto, o conceito de barreira de entrada pode ser expandido para além do ambiente corporativo, aplicando-se também a nações e sua capacidade de atrair e reter fluxos de pessoas e investimentos.
É nesse contexto que a recente elevação das taxas para obtenção de visto nos Estados Unidos (U$ 435 ou R$ 2.450 aproximadamente), a partir de 1º de outubro de 2025 , bem como os valores de hospedagem que alguns aproveitadores inescrupulosos estão cobrando durante a Conferência do Clima 2025 – COP30, em Belém, merecem uma análise aprofundada. Vamos nos fixar na primeira situação.
As Barreiras de Entrada na Perspectiva Nacional
Quando Michael Porter discute as barreiras de entrada, ele se refere a fatores que protegem as empresas estabelecidas da concorrência de novos participantes em um determinado setor (ou indústria, no jargão do mercado). Em um nível macro, podemos aplicar essa lógica a um país. Uma nação, ao buscar atrair turismo, talentos, investimentos e sediar grandes eventos, atua como um competidor no mercado global.
Políticas de visto amigáveis, custos de viagem acessíveis (inclusive de estadia) e uma imagem de acolhimento funcionam como atrativos, ou seja, baixas barreiras de entrada para ‘clientes’ globais (turistas, estudantes, profissionais, etc.). Por outro lado, processos de visto complexos, taxas elevadas e uma percepção de dificuldade de acesso criam altas barreiras de entrada, desencorajando a ‘entrada’ desses indivíduos.
O Aumento das Taxas de Visto Americano: Uma Barreira Inoportuna
A decisão do governo americano de aumentar significativamente as taxas de visto a partir de outubro de 2025, representa a criação de uma barreira de entrada financeira considerável. Essa medida, embora possa ter justificativas administrativas ou de segurança, surge em um momento paradoxal.
Os Estados Unidos se preparam para sediar dois dos maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo da FIFA em 2026 e os Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028. Estes eventos são oportunidades únicas para projetar uma imagem de nação aberta e acolhedora, além de gerar receitas multibilionárias através do turismo.
Contradição Estratégica: sediar o mundo, mas dificultar o acesso
Ao elevar as barreiras de entrada para milhões de torcedores e turistas, os EUA arriscam diminuir o potencial de sucesso desses eventos. A lógica estratégica por trás de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas é justamente a de baixar as barreiras e maximizar a participação global. A nova política de vistos, no entanto, vai na contramão dessa lógica. Ela não apenas onera financeiramente os visitantes, mas também pode ser interpretada como um sinal de que o país não está totalmente aberto a recebê-los, o que pode impactar negativamente a demanda por viagens e a experiência geral dos eventos.
Repensando a Estratégia de Hospitalidade
À luz das Cinco Forças de Porter, a nova política de vistos americana pode ser vista como uma barreira de entrada que, em vez de proteger um mercado, pode prejudicar a competitividade do país no cenário global de turismo e eventos. Para uma nação que se prepara para ser o centro das atenções esportivas mundiais, seria estratégico reavaliar se as barreiras não estão jogando (desculpe o inevitável trocadilho) contra os seus próprios interesses, limitando o fluxo de pessoas, ideias e receitas que são vitais para o sucesso de qualquer grande nação no século XXI que tem o MAGA (Make America Great Again) como sua pedra de toque.
A verdadeira força competitiva, neste caso, pode residir não em quão altas são suas barreiras, mas em quão convidativos são seus portões de entrada.