Os tempos estão mudando.
Para quem viveu a época dos super trabalhadores ou dos workaholics como se usava rotular uma determinada categoria de pessoas, deve estar estranhando o título desse artigo. Workaholics foi o termo cunhado pelo psicólogo norteamericano Wayne Oates, em 1968, para designar trabalhadores compulsivos ou viciados em trabalho.
Na década de 1980, era considerado “fraco” quem tinha o hábito de almoçar todos os dias ou quem dormia muito. Era comum ouvir pelos corredores das empresas frases do tipo “almoçar é para perdedores” ou “dormir é para imbecis” sob a alegação de desperdício de tempo.
Felizmente, a ciência se faz com pesquisa e não com bravatas. É ela quem nos permite compreender um pouco mais sobre a natureza e nos ajuda a ter uma qualidade de vida melhor, em todas as suas dimensões.
Há relatos na literatura científica de inúmeras experiências em diversas partes do mundo sobre os impactos positivos de uma noite bem dormida (o ideal são oito horas) no desempenho das pessoas, quer no âmbito pessoal ou no profissional.
Dormir não é descansar o corpo apenas. Um estudo realizado na Universidade de Lüebeck, na Alemanha, comprovou que uma boa noite de sono pode aumentar o poder cerebral e melhorar a capacidade de resolver problemas. Defendem os pesquisadores que, quando acordamos de um sono repousante, o cérebro terá estabelecido uma rede com novas conexões neurais e, dessa forma, literalmente da noite para o dia, emerge uma ampla variedade de soluções para os problemas que até então pareciam insolúveis.
Há algum tempo uma pessoa bem próxima do meu convívio pessoal, começou a relatar lapsos crescentes de memória além de um grande cansaço físico acompanhado de perda de criatividade. Decidiu procurar ajuda de profissionais e se submeteu a uma bateria de exames e testes. Um desses exames, aparentemente desconectado dos sintomas descritos, foi uma polissonografia, exame destinado a monitorar a qualidade do sono. Dito e feito. As sucessivas crises de apnéia do sono impediam o repouso do cérebro e do corpo, impactando diretamente na qualidade de vida diurna e disposição para produzir mais e melhor.
Apesar de ainda persistir a cultura do super-homem de que não é preciso dormir, felizmente, o estigma está diminuindo, graças, em parte, ao posicionamento de líderes mundiais a respeito do assunto. O CEO da Amazon, Jeff Bezos, por exemplo, disse: “Fico mais alerta e penso com mais clareza. Simplesmente me sinto muito melhor o dia inteiro depois de dormir oito horas.” Relatos de atletas de esportes de alto rendimento (jogadores de basquete da NBA – liga profissional de basquete dos EUA, pilotos de Fórmula 1, corredores de provas de atletismo) dão conta de que suas performances aumentam significativamente quando têm uma noite com 8 horas ou mais de sono. Empresas gigantes como a Google vão além, e oferecem espaços, os chamados sleep pods(compartimentos do sono) para os funcionários tirarem um soninho, mesmo durante o expediente.
Considere, portanto, a sua qualidade do sono e dos seus colaboradores como um dos fatores críticos de sucesso da sua empresa.
Em resumo, é o sono que nos permite funcionar no nível máximo de desempenho e, portanto, realizar mais e melhor com menos.
Ensinamento da semana: “Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, e cai, não fica nada” [sucesso de Elis Regina, música de Ivan Lins e Vitor Martins]