Uma das coisas que me apaixona e anima a continuar escrevendo é exatamente o fato de o processo da escrita não ser lógico e determinístico. Acredito que muitos aqui já devem ter vivido uma experiência análoga ao usar o waze, aquele aplicativo de rotas.
Você sai de casa com um certo destino, mentaliza o caminho mas, por via das dúvidas, ativa o waze e ele indica uma rota totalmente diversa. Aqui, de duas uma: ou você se mostra refratário à tecnologia e aos algoritmos e insiste no seu caminho mental (pagando o preço pela sua teimosia) ou se rende ao “carrinho alegre” do aplicativo.
Quando você começa a escrever um artigo, por mais que tenha escolhido um tema e planejado os tópicos que pretende explorar, você não sabe exatamente onde vai chegar. Pelo menos para mim, funciona assim. Normalmente escrevo no fluxo, depois reviso e, finalmente, junto as pontas soltas.
Confesso que quando comecei a escrever o artigo “Ser pequeno sem se apequenar”, que publiquei há duas semanas, meu objetivo era completamente diferente.
Acontece que o momento que estávamos vivendo em plena Olimpíadas de Paris, especialmente por conta da performance da dupla de mega ginastas, Rebeca e Biles, me levou para outro canto.
Confesso que meu objetivo primeiro era falar sobre a jornada das micro e pequenas empresas do Brasil.
Inspirado em Nelson Rodrigues, importante escritor, jornalista e dramaturgo pernambucano do século passado, me ocorreu um de seus mais famosos bordões que atribuía ao brasileiro o “complexo de vira-lata”.
O complexo de vira-lata, cunhado em 1958 por Nelson Rodrigues, se referia “à inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo, especialmente em relação aos países desenvolvidos”.
Uma possível teoria é que, pelo fato de termos sido colônia durante três séculos, nos acostumamos com a ideia da inferioridade, da submissão, de ser menor. O fato é que não devemos aceitar essa condição. Aqui, não se trata de ufanismo e nem xenofobia.
Durante minhas aulas na universidade não canso de repetir a seguinte frase “se você quer conhecer o Brasil, viaje para o exterior”. Se não, vejamos: existe país com maior biodiversidade? E, quanto à ocorrência de fenômenos climáticos ou sísmicos fora da curva, concordam que somos privilegiados? O que falar do celeiro de talentos que a cada dia nos surpreende com mais uma revelação? Essa semana ficamos sabendo do pequeno Moisés, de 13 anos, em Curralinhos, no interior do Piauí, que viralizou nas redes sociais com o vídeo sobre suas manobras no salto com vara. E, tudo isso, apesar dos parcos recursos investidos no esporte, comparado a nações do mesmo porte sócio-político-econômico do Brasil.
No mundo dos negócios para micro e pequenos empresários dá-se o mesmo. Falta um olhar mais atento para essa classe de empresários.
Basta analisar os elevados índices de mortalidade infantil nas empresas emergentes?
Uma das causas raízes está no fato de que os donos de pequenos negócios passam o dia inteiro focando seus esforços (que não são poucos) tentando apagar incêndios.
A realidade é que problemas ocorrem todos os dias e em qualquer empresa, seja ela pequena, média ou grande. “Ah, mas as empresas maiores têm mais gente para tocar as tarefas”, dizem os empresários.
Será que é isso que os impede de decolar? Ou será que, além da ausência de políticas adequadas e de incentivo real ao empreendedorismo, faltam, também, boas práticas de gestão (planejamento, organização, noções de finanças, liderança etc? Lembremos que os problemas são proporcionais ao porte da empresa.
Esquecem, por exemplo, de que o tempo não para e com ele as oportunidades talvez não voltem.
Não estou com isso minimizando os desafios do pequeno empreendedor. Sei porque já fui dono de negócios próprios durante mais de 30 anos. Reconheço a dificuldade de acesso ao crédito, seja para capital de giro, seja para investimento em novos equipamentos ou tecnologias. Vivi na pele as armadilhas da tributação e a sanha dos órgãos fiscalizadores.
Mas sei, também, que hoje existem modelos de negócios que oferecem uma série de alternativas de solução, por exemplo, pelo compartilhamento de máquinas e equipamentos, explorando ciclos de ociosidade desses equipamentos, de cooperativas de compras etc. Aqui, eu atribuo parte do problema ao mindset do empresário brasileiro.
Associações de classe e sindicatos podem ser um excelente foro para discussão e união de forças. As eleições municipais estão aí. Não será uma oportunidade de cobrar do seu candidato ações que tornem a vida do micro e pequeno empresário mais leve?
Mas se você, pequeno empresário, ficar com o seu nariz enfiado numa planilha de excel ou num caderno vendo como vai pagar as contas, a exemplo do que disse sobre conhecer o potencial do Brasil, não vai ter o necessário distanciamento da realidade para enxergar essas inúmeras oportunidades que aparecem.
Recentemente publiquei uma chamadinha em uma rede social que talvez o problema de muitas pequenas empresas é que seus gestores são inconscientemente incapazes, que é aquele estágio da incapacidade em que a pessoa não tem consciência de que não sabe um determinado assunto: pode ser na área financeira, de marketing, de pessoas, produção ou logística. Mal nisso não há, solução existe, é só querer.
Semanalmente eu publico um artigo sobre gestão, negócios e empreendedorismo. Se quiser saber mais sobre esses assuntos, acesse meu site, vídeos no meu canal no Youtube, Gotas di Gestão, podcasts no Spotify ou pode me enviar uma mensagem no privado. Responderei com muito gosto. Enquanto isso, deixa um like nessas plataformas e indica para seus amigos assinarem e tornarem esse conteúdo mais relevante.