Vencedor não é aquele que sempre venceu,
mas o perdedor que não desistiu.
Bastou 1,42 m de altura para que a ginasta norte-americana Simone Biles se transformasse em uma gigante e, merecidamente, conquistasse o título de uma das maiores atletas olímpicas de todos os tempos ao lado de poucos no Olimpo.
A par dos sem-número de medalhas e títulos que coleciona, Simone revelou algumas faces que não são fáceis (perdão pelo trocadilho) de se mostrar.
Quando em 2021 nas olimpíadas de Tóquio, adiadas de 2020 devido à pandemia de covid-19, ela anunciou que por questões ligadas à sua saúde mental, desistiria de disputar as finais das provas de solo, muita gente sentenciou o seu fim.
A sequência de vitórias e títulos a que assistimos de lá para cá, demonstraram que, felizmente, a turma do copo meio-vazio, errou, mais uma vez em cheio (desculpe, por mais esse) o seu prognóstico. Que exemplo de humildade, civilidade, grandeza, disciplina e foco.
Esse fato reacendeu uma velha discussão, pelo menos aqui no Brasil, sobre a importância de cuidar da saúde mental das pessoas e, em especial, dos atletas profissionais ou de alto rendimento. Costumo dizer que, na verdade, a nossa saúde deve responder a uma prova quádrupla, respondendo a “como estão as suas saúdes?”
- física
- mental
- social
- espiritual
E isso me remeteu a uma passagem que se deu comigo no início de 1996. Um grupo de amigos e eu tínhamos inaugurado, em novembro de 1995, uma pista de kart indoor na Móoca. Como às segundas-feiras não havia expediente, uma vez que trabalhávamos nos finais de semana, decidimos abrir a pista para os jogadores de futebol profissional do Corinthians que estavam de folga naquele dia e quisessem curtir uma emoção diferente: a da velocidade.
Um certo dia, tive uma conversa com o goleiro do time à época e que era uma liderança entre os seus pares, Ronaldo Giovanelli. Ainda ocupava a primeira página do noticiário o episódio ocorrido em dezembro de 1995, no qual um jogador de futebol muito famoso se envolveu em um acidente que acabou por vitimar fatalmente três jovens que estavam com ele no seu Jeep Cherokee no momento do acidente. Apelidado de “bad boy” dispensa a apresentação de seu nome e currículo. Logo esse jogador foi transferido para o “timão” com um invejável pacote de benefícios que incluía a locação de um apartamento para ele morar além de luvas, salário e outros penduricalhos.
Como a folha corrida do jogador incluía diversos incidentes dentro e extra campo, perguntei ao goleiro Ronaldo por que o Corinthians não oferecia acompanhamento psicológico ao atleta? Não fazia parte da cultura do clube essa prática, foi a resposta.
A pergunta que não quer calar: por que no mundo corporativo existe essa preocupação com o oferecimento de programas de coaching, mentoria, terapias integrativas para gestores e no esporte não? Trata-se de, no mínimo, um paradoxo, uma vez que qualquer atleta mediano atualmente ganha algumas vezes a remuneração de um executivo de médias e grandes organizações.
Uma análise rápida me sugere que, até hoje, como uma tímida esperança de mudança, há uma crença generalizada de que acompanhamento psicológico ou terapias de um modo geral são recomendadas para os momentos de reveses, de derrotas, enfim, quando estamos para baixo. Ledo engano… Talvez sejam mais necessárias e relevantes na vitória, no pódio e na glória.
O sucesso sobe à cabeça muito mais rápido do que se imagina. E, se não houver uma rede de apoio adequada, o abismo ou o preço do isolamento são o próximo passo.
Oxalá a coragem e o exemplo dessa jovem atleta, Simone Biles, repercuta positivamente e leve mais times esportivos e empresas a se preocuparem com o assunto e propor práticas que levem à saúde plena da sua gente, da nossa gente.
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