Infelizmente o mau hábito do “copia e cola“ , desprovido de uma análise crítica e, principalmente, contextualizada, não é privilégio dos trabalhos escolares; nas tradições culturais, também, se observa. A Black Friday que se comemora no próximo dia 29 de novembro, é um exemplo típico do que estou falando.
A data festiva originária dos Estados Unidos está associada ao dia seguinte ao feriado de Ação de Graças (thanksgiving), que é celebrado na quarta quinta-feira do mês de novembro.
Origem controversa
Há quem diga que a tradição do Dia de Ação de Graças já era celebrada há muito mais tempo no Reino Unido e por toda a Europa com festas e uma mesa farta após a colheita bem-sucedida, como forma de agradecimento e reconhecimento pelas bênçãos recebidas.
Nos Estados Unidos, se atribui a primeira celebração do thanksgiving a uma festa de três dias patrocinada pelos peregrinos que recém haviam chegado ao país, oriundos da Inglaterra, a bordo do navio Mayflower (1620). A festa ocorreu em conjunto com os ameríndios que habitavam a terra e efetivamente trabalharam na colheita.
Como essa versão quanto à origem da comemoração envolve uma questão sombria e polêmica da exploração do povo nativo pelos peregrinos, ela é normalmente ignorada e, em seu lugar, enfatiza-se o caráter religioso e de gratidão da data; ou seja, quando recontada, a história do “primeiro thanksgiving” é glamourizada como uma festa harmoniosa e de confraternização entre as pessoas.
Polêmicas à parte, a data cresceu e hoje é um dos feriados mais importantes dos Estados Unidos por ato do então presidente Abraham Lincoln em 1863 em plena guerra civil americana (Guerra da Secessão 1861-1865).
E a Black Friday, como surgiu?
O primeiro registro oficial de uso do termo Black Friday foi em 24 de setembro de 1869, quando o preço do ouro nos Estados Unidos disparou, causando uma crise econômica. A expressão foi usada para representar esse momento negativo da história.
Outra teoria é que o termo marca o momento em que as lojas saíam do prejuízo (vermelho) e passavam a ter lucro (preto). Esse padrão comercial ajudou a consolidar a data como um marco para grandes promoções. Historicamente, a data ficou marcada, também, como o início da temporada de compras para o Natal, com grandes promoções e descontos em lojas físicas e, mais recentemente, no comércio eletrônico.
Uma terceira teoria aponta que o termo surgiu nos anos 1960, quando os policiais da Filadélfia usavam a expressão para se referir ao trânsito caótico de uma sexta-feira, após o feriado nacional de Ação de Graças.
Uma quarta hipótese é que a expressão surgiu na década de 1950, quando a revista Factory Management and Maintenance comparou as pessoas que ficavam doentes na sexta-feira após o Dia de Ação de Graças devido a um surto de peste bubônica.
O fato é que a “sexta-feira negra” sucede o Dia de Ação de Graças em que se celebrava a colheita bem sucedida no hemisfério norte. É, portanto, uma festa de gratidão. E o comércio, irmanando-se ao agronegócio no espírito da Ação de Graças concede, no dia seguinte, descontos especiais que ajudam a alavancar as vendas pré-natalinas. Lá, nos EUA, a Black Friday é séria e, de fato, são concedidos descontos reais e significativos.
O jeitinho brasileiro
Nas últimas décadas, a Black Friday se tornou um fenômeno global, especialmente com o crescimento do comércio eletrônico. Países como Brasil, Canadá e Reino Unido adotaram a data, adaptando-a às particularidades de seus mercados e à cultura local. No Brasil, ela ganhou força a partir de 2010, inicialmente no comércio online.
Acontece que, com honrosas exceções, ao copiar e colar a festa tradicional norte americana, muitas empresas brasileiras ou estrangeiras mas que operam aqui, introduziram o seu próprio tempero e, como diz o meu amigo João, dono de uma barraca de ovos na feira, “na Black Friday tudo é vendido pela metade do dobro@.
Thanks Giving, sim. Black Friday não, obrigado!