Aproveitando o momento em que vivenciamos a reta final da insana corrida pela conquista do título brasileiro de futebol, algumas lições podem e devem ser tiradas de tudo o que aconteceu.
Eu considero que o futebol é um excelente laboratório para debater questões ligadas à gestão, negócios e empreendedorismo. Eu, inclusive, já usei diversos exemplos e situações de dentro e fora das quatro linhas do campo de batalha ou “betalha”, uma vez que agora tudo é bet (aposta).
Senão, vejamos: é fato que futebol exige planejamento, organização, execução, controle e feedback. Tudo igualzinho ao mundo corporativo. Ah, claro, também envolve pessoas, processos e resultados!
A sintonia do líder (treinador) da equipe com seus liderados (jogadores), a definição clara de objetivos e estratégias, o apoio incondicional da direção somados ao incentivo dos stakeholders (torcida, imprensa, federação, etc) formam a base de sustentação para o sucesso de qualquer organização: seja de futebol, organizações com ou sem fins lucrativos ou, mesmo, governamentais.
Fazendo outra vez uma analogia entre o mundo corporativo e o futebol neste, o “chão de fábrica” é representado pelos 11 atletas que bem ou mal operam os resultados necessários para levantar o caneco no final do certame.
Agora, focando no mundo corporativo, que nos interessa.
O Instituto Gallup apresenta na sua home (www.gallup.com) o lema “Ajudando pessoas a serem ouvidas” e declara ser uma organização de análise e consultoria que “usa a compreensão da experiência humana para ajudar os seus clientes a resolver seus maiores desafios e aproveitar suas maiores oportunidades”.
Para ajudar a cumprir essa missão, o Gallup realiza anualmente, desde 2005, uma grande pesquisa abrangendo 160 países de forma a colher a percepção dos colaboradores com relação ao seu local de trabalho. Já foram mais de 2 milhões de pessoas entrevistadas. O último relatório, de 2023, ouviu 122.416 trabalhadores presencialmente e por telefone e revelou um expressivo crescimento do engajamento da força de trabalho em 2022, após dois anos de declínio em decorrência da pandemia, atingindo significativos 23%, ou seja, maior do que antes da pandemia, conforme o gráfico a seguir.
Usando a metáfora do copo, essa é a parte meio cheia. Infelizmente a meio vazia revela um nível de desengajamento de 77%, ou seja 3.8 vezes maior. E, mais, os dados indicam que a falta de engajamento se manifesta sob duas formas, como mostra a figura.
Dos 77% de desengajados, 59% praticam o que se chama demissão silenciosa (quiet quitting), ou seja, instalados confortavelmente em suas poltronas, deixam o tempo passar, psicologicamente desconectados da empresa; produzem o mínimo e, apesar disso, revelam elevado nível de estresse uma vez que se sentem perdidos sem um propósito. Essa categoria relata problemas ligados à cultura da organização, sistema de remuneração e benefícios ou preocupação com o bem-estar dos funcionários, bem como áreas em que promoveriam mudanças em seu local de trabalho para torná-lo melhor.
Já os restantes 18% o fazem de forma ruidosa, prejudicando a empresa, opondo-se às lideranças e atrapalhando os colegas, tornando o ambiente de trabalho tóxico e improdutivo. É a conhecida demissão ruidosa (loud quitting).
Outro dado da pesquisa é que mais da metade (51%) dos colaboradores globais que trabalham para um empregador estão ativamente à procura de outro emprego ou à procura de vagas.
Cabe, então, aos líderes gestores identificar e entender as causas desse desengajamento. A pesquisa da Gallup nos ajuda nesse sentido. Veja os principais motivos do desengajamento identificados na pesquisa:
- Necessidade de os colaboradores serem ouvidos e reconhecidos;
- Falta de comunicação aberta e franca entre liderança e liderados, com interesse sincero pelos seus problemas;
- Desejo de mais diálogo, tanto com colegas como com os líderes gestores.
O recado foi dado: enquanto o foco das organizações estiver única e exclusivamente nos resultados financeiros, o risco de haver uma falta significativa de engajamento será muito grande.
Para se ter ideia do que isso representa de prejuízo para a economia global, o Gallup estimou que o baixo engajamento gera uma perda de US$8,8 trilhões, ou seja, 9% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Bem, 2024 está aí, para que os responsáveis pelas empresas e pelos times de futebol demonstrem se fizeram a lição de casa.
Semanalmente eu publico um artigo sobre gestão, negócios e empreendedorismo. Se quiser saber mais sobre esses assuntos, você encontra em meu site, em vídeos no meu canal no Youtube, Gotas di Gestão ou em podcast no Spotfy Deixa um like e indica para seus amigos assinarem e tornarem esse conteúdo mais relevante.