Isso mesmo, erre mais!
Somos educados a buscar o acerto em tudo o que fazemos, custe o que custar. Quando acertamos somos elogiados e, às vezes, até premiados. Quando erramos somos censurados, advertidos e, quase sempre, de alguma forma punidos.
Aprendemos muito mais com nossos erros do que com nossos acertos, é o que todo mundo repete, a torto e a direito. Na verdade, desde muito novos, somos educados a associar o sucesso a dar respostas certas.
Lutar é um mau sinal, é o tipo de coisa que se faz quando não se está conseguindo “chegar lá”, ou quando o trabalho é muito difícil de ser realizado. Durante boa parte de sua formação, os estudantes são encorajados a terminar suas tarefas rapidamente. Aqueles que não conseguem, são direcionados para um programa de recuperação, reforço escolar ou, no limite, retidos.
Implicitamente associamos lutar a uma forma empobrecida com que os outros nos vêem quando, na realidade, é só com o alargamento de nós mesmos que desenvolvemos novas habilidades.
Acontece que a fila anda e a gente não pode ficar parado na queixa, como um poste: “camarão que dorme a onda leva”, diz a música.
Pesquisas contemporâneas no campo da psicologia social nas áreas da inteligência humana e criatividade, desenvolvidas ao longo de mais de 10 anos, apontam que indivíduos altamente criativos tendem a desenvolver um conjunto mais amplo de interesses do que a média de seus pares. Essa foi uma das conclusões a que chegou o psicólogo Dean Keith Simonton, professor da Universidade da Califórnia. Enquanto pessoas consideradas geniais trabalham para encontrar solução para um certo problema, elas se mantêm entretidas em campos totalmente diversos e não correlacionados explorando, por exemplo, o mundo da arte, da música, do esporte ou da literatura.
Em uma análise preliminar, pode parecer que elas estão apenas “viajando na maionese”, mas não raro essas estranhas experiências alimentam suas habilidades e acabam por desencadear conexões inesperadas que levam à solução do problema.
Dr. Simonton focou suas pesquisas na vida de grandes gênios da humanidade nas respectivas áreas: Shakespeare, Dickens, Tolstói, Picasso, Monet, Bach, Mozart, Wagner, Schubert, Brahms e Dostoiévski foram algumas celebridades estudadas. Observou que eles tinham em comum, por exemplo, apenas um nível moderado de educação formal. Acredita que, muitos anos em sala de aula, por outro lado, faria com que suas ideias se amoldassem ao status quo, inibindo a iniciativa, mãe da criatividade. Apesar da genialidade, nem tudo o que eles produziram se transformou em obras-primas. No entanto, a conclusão a que se chega é que as obras-primas não aconteceriam se não houvesse um grande número de tentativas e, portanto, erros. É lógico que só o número de tentativas não garante o sucesso mas, com certeza, aumentam as chances de alcançá-lo.
O escritor Daniel Coyle em seu livro “O segredo do talento” escreve que “é caminhando pelo precipício entre suas habilidades atuais e as capacidades mais além que o crescimento acontece”. Atletas de alto desempenho alcançam suas marcas arriscando falhas e utilizando-as como testes para suas habilidades.
“Nossa política é realizar tentativas”, disse Eric Schmidt, ex- C.E.O. do Google. “Nós celebramos nossos fracassos;…tudo está muito bem quando se tenta algo muito difícil, com ou sem sucesso; de qualquer forma, use a aprendizagem e a aplique em algo novo” apregoa o executivo de inquestionável sucesso no mundo corporativo.
Algumas escolas de vanguarda há alguns anos premiam alunos pelo fracasso. O insucesso, por si só, não é suficiente. O importante é buscar nele um insight que possa melhorar sua próxima tentativa. O professor de Matemática Edward Burger, do William College no Texas, por exemplo, instituiu que, ao final do semestre, os alunos que foram mal devem fazer um trabalho sobre um erro que cometeram. No texto, eles têm que descrever porque pensaram que suas abordagens estavam corretas e como o erro ajudou a revelar uma nova forma de entendimento para o problema.
Ensinamento na semana: ”Ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles.” Confúcio, filósofo grego