Toda avaliação pressupõe um processo; o julgamento está, normalmente, associado a um resultado que, quase sempre, decorre de um evento solitário.
Manhã de domingo, enquanto preparava o café da manhã, me pus a ouvir um daqueles programas que fazem a resenha semanal sobre diferentes esportes. Muito aprendizado para o mundo da gestão empresarial.
Um dos entrevistados falava do troca-troca de técnicos no futebol brasileiro; dizia que a média de permanência de um treinador no cargo é de, apenas, 65 dias. Fiquei matutando esse número.
É justo dispensar um treinador profissional em tão pouco tempo? Se, em outras categorias profissionais, o período de experiência é de até 90 dias; e, no serviço público o estágio probatório é de 3 anos, por que no futebol haveria de ser diferente?
Não fosse pelo aspecto legal (para não dizer moral), será que é possível alguém assumir uma equipe composta de 25 a 35 pessoas (no caso, atletas profissionais) e produzir resultados em tão curto lapso de tempo, fruto do seu trabalho e não do efeito psicológico da troca?
É sempre bom lembrar que, com certeza, esse time de pessoas está atravessando uma situação de crise, senão, por que a substituição do treinador? Exceção a essa regra é o caso de o treinador ter sido cooptado por uma equipe que lhe acenou com uma condição de trabalho excepcionalmente desafiadora e irrecusável.
Na minha avaliação, o erro no quadro acima descrito está no processo seletivo, a exemplo do que acontece em muitas empresas no mundo corporativo com as quais tenho me defrontado em trabalhos de consultoria.
Em lugar de a empresa desenhar o perfil do profissional necessário para atender determinadas competências que o cargo exige recorre, na prática, a critérios de recrutamento e seleção subjetivos e, no mínimo, questionáveis.
Até entendo que cada caso é um caso: ora o fator determinante é a restrição orçamentária, ora é uma indicação de parente e, por vezes, a motivação tem caráter midiático; afinal, pega bem contratar alguém que vai ser a “nova cara” da empresa, nem que seja “por um verão” apenas.
Ouso dizer que, em qualquer uma das situações citadas, o que mais ocorre é a manifesta incompetência do gestor, desde as etapas de planejamento (financeiro, por exemplo) até a fase da especificação do perfil profissional do postulante ao cargo.
Voltando ao caso dos times de futebol, desconheço a existência de profissionais especializados em gestão de pessoas (ou, recursos humanos, se preferir) engajados no processo de contratação de um técnico.
E, para finalizar, mais uma pergunta: por que, ao contratar um colaborador para qualquer cargo júnior da estrutura, se investe tempo e recursos financeiros em testes admissionais demorados e que levam em consideração tanto as hard (conhecimento técnico), quanto as soft skills (sócio-emocionais) do candidato e no caso do treinador de futebol basta a palavra do dirigente?
A probabilidade de dar errado é muito grande; a exceção, é dar certo.
O resultado disso é o que temos assistido; pessoas sendo julgadas e condenadas pelas “torcidas” ou pela “mídia” (seja no futebol ou não). Em casos assim, eu acredito que quem deve ser substituído é o dirigente que não soube escolher.
Ensinamento da semana: Valorize a jornada, o destino (resultado) é uma decorrência natural.